Deus sim, Igreja não?

Não posso amar Deus sem a Igreja?

Hoje em dia ouve-se com muita frequência: “Deus sim, igreja não”. Ou “acredito em Deus, mas não confio nos Padres”. Não há dúvida: A Igreja, como instituição, é tal como as pessoas: humana, imperfeita e que, por isso, tem uma necessidade constante de renovação. No entanto, a Igreja não é invenção humana, mas sim obra de Deus.

Jesus sabia que nós, humanos, estamos muitas vezes enredados nas nossas próprias ideias, preocupações e limitações. A Igreja serve como uma ponte que nos ajuda a atravessar este abismo. Põe-nos em contacto com a Sabedoria e Graça divinas que, talvez, não conseguiríamos reconhecer ou experimentar tão facilmente por nós mesmos. Na comunidade da Igreja encontramos orientação, inspiração, e Graças sacramentais que nos aproximam de Deus e que nos ajudam a melhor compreender a perspetiva divina.

A Igreja é mais que uma instituição

Cristo, para além de ter fundado a Igreja, encomendou aos seus apóstolos e seus sucessores a tarefa de a dirigir e guiar até ao fim dos tempos. A Pedro, o primeiro Papa da Igreja, disse-lhe Jesus: “Tu és Pedro, e sobre ti edificarei a minha Igreja, e o poder da morte não prevalecerá sobre ela”. (Mt 16, 18).

Portanto, o cristão não crê na Igreja, crê em Deus, que se manifesta em e através dela, até ao fim dos tempos. E Deus permanece sempre fiel à Igreja, mesmo quendo a Igreja trai a sua missão e abusa da sua vocação. Ele ama a Igreja, como só Deus pode amar. Sem reservas, sem condições, com fidelidade. De maneira absoluta e divina. Apesar dos seus erros e debilidades, a Igreja é uma dádiva inestimável que Deus deu à humanidade.

A Igreja como pilar da cultura ocidental

Ao longo dos séculos, a Igreja tem assistido a muitos confrontos e conflitos internos, que têm dado origens a algumas divisões. Muitos escândalos têm deteriorado a reputação da Igreja, e têm resultado na perda de confiança, mesmo por parte de fiéis praticantes.

E, no entanto! Sem querer branquear os capítulos sombrios dos dois mil anos de história da Igreja, poucas instituições no mundo contribuíram mais para a formação da civilização ocidental como a Igreja Católica.

Ao pôr em prática os seus ensinamentos, a Igreja Católica estabeleceu as bases essenciais para o tecido social, que mais tarde iriam ser adotadas e desenvolvidas por instituições estatais na era moderna. Foi pioneira na criação de instituições para órfãos, hospitais e asilos. A Igreja Católica desempenhou também um papel importante na abolição da escravatura, embora tenha sido um processo longo e desafiante.

Desde a Alta Idade Média que as ordens religiosas têm vindo a ser promotoras de Educação e novas ciências e tecnologias. Os mosteiros foram, e ainda hoje, nalgumas partes do mundo, são os principais centros educativos. Os religiosos criaram escolas monásticas, as primeiras bibliotecas, e muito mais. Por exemplo, os jesuítas, os beneditinos e os franciscanos contribuíram ativamente para o desenvolvimento científico, artístico e cultural.

Tu e eu também somos Igreja

Os católicos podem recordar estas raízes, redescobrir e valorizar a sua riqueza com uma autoconfiança saudável. Em momentos de incerteza, a Fé cristã oferece uma fonte fiável de orientação, consolo e comunidade. É fundamental cuidar e defender o profundo tesouro espiritual, cultural e intelectual da Igreja.

Em vez de nos deixarmos consternar pelas críticas, por vezes contraditórias, à Igreja (“Porque é que a Igreja tem de se intrometer? Porque é que a Igreja não faz nada? Onde está a Igreja quando isto ou aquilo acontece?”), como cristãos somos chamados a olhar para dentro e a questionar: “Onde estou? Cumpro com a minha missão de cristão batizado?”

Porque a Igreja não é só uma instituição ou um edifício, é um organismo vivo que acontece através das ações e da Fé dos seus membros. Pelo pensamento e pelo discurso, assim como pelos pequenos e grandes gestos, a imagem da Igreja é constantemente moldada e alterada, positiva ou negativamente.

Se sou batizado, sou Igreja. E isso significa que, tal como sou, assim é a Igreja.

Orgulhosos de ser cristãos

Como cristão, tu és uma peça fundamental no grande mosaico que é a Igreja. Depende de cada um de nós a construção de uma imagem mais justa e verdadeira da Igreja. “Se uma (parte) sofre, todas sofrem com ela; se outra é elogiada, todas se alegram com isso. Todos juntos constituem o corpo de Cristo e cada um por si é arte dele.” (1 Cor 12, 26-27).

O Papa Bento XVI anima-nos a não nos rendermos, apesar dos desafios e feridas por que a Igreja já passou, e a sermos mais conscientes da nossa identidade cristã, e a estarmos orgulhosos de pertencer à Igreja. No prólogo do Catecismo Jovem YOUCAT, dedica-nos estas valiosas palavras que deviam ser um legado para todos nós:

“(...) sabeis todos quão profundamente a comunhão dos crentes foi ferida nos últimos tempos pelo ataque do mal, com a infiltração do pecado no íntimo da Igreja, isto é, no seu coração. Não o tomei como pretexto para fugir do rosto de Deus! Vós próprios sois o corpo de Cristo, a Igreja! Trazei à Igreja o fogo inextinguível do vosso amor sempre que o seu rosto for desfigurado! «Sede diligentes, sem preguiça, fervorosos no espírito, servindo o Senhor»” (Rom 12, 11)