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Jejum
Por que o jejum é uma tendência tão grande? O que há de especial no jejum cristão? Uma explicação atualizada baseada na Bíblia e no Catecismo.
Definição
O jejum é a abstinência parcial ou completa de comidas, bebidas, estimulantes e hábitos de vida por um certo período de tempo. Pode-se jejuar por motivos de saúde ou por um propósito superior. O jejum é uma prática comum em muitas religiões. No Cristianismo, o jejum não é um fim em si mesmo. Entretanto, ele tem uma relativa importância ao ajudar as pessoas a reconhecerem a primazia de Deus e a se restabelecerem novamente no caminho, de maneira simbólica – longe do egoísmo e apontando para a caridade e para Deus. No direito canônico, o jejum aparece como uma forma de penitência – e é dito: “Todos os fiéis, cada qual a seu modo, por lei divina têm obrigação de fazer penitência”. Para esse propósito, “prescrevem-se os dias de penitência em que os fiéis de modo especial se dediquem à oração, exercitem obras de piedade e de caridade, se abneguem a si mesmos, cumprindo mais fielmente as próprias obrigações e sobretudo observando o jejum e a abstinência.” O YOUCAT 151 diz: “Porém, também a leitura da Sagrada Escritura, a oração, o jejum e a realização de boas obras têm o efeito de perdoar os pecados.”
O que diz a Bíblia?
A perspectiva bíblica central é encontrada em Joel 2, 12: “voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto”. A isso é dito em Isaías 58, 6: “Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: é romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo”. O objetivo do jejum é conduzir para Deus e tornar as pessoas melhores em seu comportamento social. É por isso que os discípulos não jejuavam na presença de Jesus, como os outros judeus faziam: "Podem porventura jejuar os convidados das núpcias, enquanto está com eles o esposo?". Como um ensinamento sobre o jejum, Jesus diz: “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para manifestar aos homens que jejuam.” (Mt 6, 16)
Uma pequena catequese do YOUCAT:
O jejum te deixa acima do peso
Parece que ninguém mais precisa ouvir que é preciso amar o jejum. Acontece todo ano, no outono. Porém, aqueles que jejuam somente por motivos físicos – o desejo de ficar bem no biquíni, ou da “barriga tanquinho” – não estão suficientemente iluminados: o jejum te deixa acima do peso. Passando a fase da própria mortificação, as células famintas se vingam e atacam impiedosamente. O jejum te deixa acima do peso. É melhor comer normalmente, beber pouco álcool e fazer muito exercício. Entretanto, o jejum é sensível e altamente eficiente se o fizer por motivos espirituais (e depois comer moderadamente para que não engorde por “razões piedosas”). Assim que fizer isso, você irá amar o jejum e sempre irá procurar um tempo em sua vida, quando irá se abster completa ou parcialmente de comida. O sábio Santo Atanásio (328-373) resumiu de uma forma singular os efeitos do jejum:
“Cura as enfermidades, afugenta os demônios, expulsa os maus pensamentos, dá mais beleza e brancura à alma, mais pureza ao coração, santifica o corpo, e finalmente finalmente leva o homem diante do trono de Deus”.
Porque o jejum é, por fim, sobre restaurar o homem ao caminho que deve estar, vamos ver as coisas de maneira mais intensa:
O jejum cura as enfermidades
Esse é o efeito físico que agora foi confirmado cientificamente e é especificamente solicitado por muitos médicos. É estimado que cerca de 90% de nossas doenças estão relacionadas a hábitos alimentares ou podem pelo menos ser influenciadas por eles. Em uma área de 200 metros quadrados (!), há mais células nervosas no intestino do que no cérebro humano. 100 trilhões de bactérias garantem uma microbiota intestinal intacta em sistemas complexos. Depois de uma cura pelo jejum, o sistema digestivo, antes danificado pela má-alimentação, está intacto novamente; o maior sistema imune do corpo foi regenerado. Uma abundância de substâncias de defesa foi formada, a dor desaparece e a medicação se torna supérflua.
O jejum afugenta os demônios
Não é sobre acreditar em fantasmas, mas sobre nossa própria psique, nossa obsessão diária com todos os tipos de desilusões, neuroses, manias, vícios e sussurros negativos. Eu não conheço alguém que não esteja em uma batalha interior com seu próprio “espírito maligno”. Algumas batalhas são travadas até a morte. Inclusive, cada um tem o oponente que merece. “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pd 5, 8). Aqueles que jejuam sabem domar o “leão que ruge” em qualquer forma que tomar! No Evangelho de Mateus há uma passagem misteriosa (Mt 17, 21), na qual Jesus diz que um certo tipo de demônio só pode ser expulso através da oração e do jejum. Embora a passagem bíblica seja questionada hoje como falsa (adicionada), ela teve grande influência na história da espiritualidade. Você tem que dar uma chance ao jejum quando estiver enfrentando um grande problema. Os mais velhos diriam: você só vai se livrar disso com jejum e oração! O YOUCAT 470 diz: “Orar possibilita a resistência contra as tentações. Orar fortalece na fraqueza. Orar tira a angústia, duplica as forças, permite uma respiração mais profunda.”
O jejum expulsa os maus pensamentos e dá mais beleza e brancura à alma
Aqueles que trabalham espiritualmente enquanto jejuam irão confirmar como as coisas “se abrem” para eles, como a clareza e a soberania de seu próprio pensamento praticamente os tomam de surpresa. Um pensamento puxa o outro. Eu testemunho: Nunca tive tantas intuições, nunca pude pensar melhor, compreender melhor, ser mais criativo do que durante o tempo em que não comi por um longo período de tempo.
O jejum dá mais pureza ao coração
Algumas pessoas não querem jejuar porque leram em um blog sobre como “conversas eróticas” são estimulantes. Elas também têm vagas memórias de canções infantis que dizem “eu sou pequeno, meu coração é puro”¹. Esse era o tempo em que minha mãe ainda acreditava que nunca teríamos pensamentos impuros. Mas a palavra “puro” aqui não significa “assexual”. Nem significa o superlativo de “limpo”. Ter um coração puro significa: ter um coração forte, inteiro, devoto e amável. É disso que você precisa. Caso contrário você não chegará a Deus e não terá um relacionamento verdadeiramente bom com outras pessoas. É disso que se trata tudo isso. É claro, podem ser obsessões sexuais que impedem nosso coração de ser um só coração. Então o jejum é bom contra isso também. O YOUCAT 463 diz: “A pureza do coração, necessária para o amor, atinge-se em primeiro lugar, pela união com Deus, na oração. Quando a graça de Deus nos toca, surge um caminho para o amor humano puro e indiviso”
O jejum santifica o corpo
Por um lado, hoje estamos criando um show sobre a cultura do corpo. Por outro lado, nós torturamos e degradamos o corpo como se fosse uma máquina cujas partes podem ser substituídas. Jogamos comprimidos nele, como em uma máquina de venda automática. Nós o arruinamos pela falta de exercícios, comidas ruins, álcool, drogas e nicotina. Aqueles que jejuam sentem seus corpos. Eles descobrem que têm uma pele e respiram através dela. Descobrem que são um corpo – e não têm um corpo. São Francisco de Assis chamava o seu de “irmão corpo”. O falecido Lutero, infelizmente, não sustentou a elevada posição dessa intuição. Ele chamava seu corpo de “um velho saco de vermes”. E essa é a experiência de muitas pessoas conforme envelhecem: veem-se nuas no espelho e se odeiam.
Eu sempre senti que isso era uma traição à esperança cristã. Essa esperança diz: 1. Deus criou tudo de maneira boa. 2. Mas agora as coisas estão ruins para nós. 3. Essa não é a palavra final. Tudo ficará bem de novo. Não é um “pensamento positivo” ingênuo – é uma esperança que se refere a um evento histórico, a saber, a destruição do corpo de Jesus em um dia de abril por volta do ano 33. Jesus morreu a cruel morte criminosa da antiguidade. A história que findou em uma catástrofe física, em tortura e profanação, terminou, no entanto, bem para Ele – inclusive corporalmente. Três dias após a catástrofe, o Homem executado se mostra vivo. Jesus vive na glória de Deus - e como Matthias Grünewald o pintou em sua famosa obra da ressurreição: seu corpo carrega as marcas do sofrimento, mas ao mesmo tempo este corpo é belo e completo.
O jejum santifica o corpo, Atanásio disse. Vamos traduzir! O jejum leva o corpo ao seu destino final. Ele não existe para que o alimentemos, engordemos ou o preparemos em corrupções intermináveis de bem-estar, comida e cosméticos, até que ele recuse qualquer uso posterior como um “velho saco de vermes”. Ele existe para ser, como a Primeira Carta aos Coríntios diz um tanto enigmaticamente, o “Templo de Deus” (1 Cor 3, 16). Assim como o corpo flexível de uma dançarina subitamente se torna belo quando capturado por uma música e a dançarina se rende à melodia sem resistir, de forma que a música passa por ela completamente – da mesma forma, o corpo do ser humano se torna ainda mais corpo quando se permite ser capturado pelo Espírito de Deus, que está contido nele, como uma música misteriosa. Então o corpo de uma pessoa senil pode também ser algo muito belo quando “justiça, paz e gozo” (Rm 14, 17) brilham através dele, os mesmos sinais do Espírito Santo. Comer, beber, cuidar do corpo, tudo isso é importante – mas ao renunciá-los uma vez descobrimos que nossos corpos, com todas as suas glórias e feridas, são aceitos por Deus, curados de dentro, salvos eternamente e mantidos Nele.
O jejum leva o homem diante do trono de Deus
Aquele que jejua se afasta de si mesmo, deste “eu, eu, eu” – de suas exigências majestosas sobre sua propriedade corporal. Aquele que jejua desenvolve um instinto metafísico – um instinto que transcende toda fisicalidade, toda materialidade, toda mera corporeidade. Ele é atingido por um assombro abismal com o fato de ele que existe. Alguém me deseja, mesmo eu sendo mortal, mesmo que minhas capacidades físicas estejam diminuindo rapidamente. Então, percebe-se que a “vida” não consiste em comer, beber, trabalhar, sexo ou outras manifestações de autoafirmação, mas sim que é um misterioso ser mantido na existência: alguém quer que eu não pereça. Aqueles que jejuam vão muito longe.
E muitos ousam, durante o jejum, abordar o mistério de sua própria existência com “Você, meu Deus”. ∎
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